Uma parte de mim


Oie, estou muito feliz que você tenha chegado até aqui para conhecer uma parte de mim!

Sente-se, aceita um chá? Um café? Um refresco de caju ou de limão? Espero que se sinta à vontade aqui em casa, porque quero lhe contar um tanto da minha história. Brevemente dizer, como fui encontrando minhas texturas observando também o meu contexto (a contextura) que indicou possíveis cruzamentos de mim até eu criar a metodologia terapêutica Teceduras. 

Não tenha pressa, se não conseguirmos finalizar este papo hoje, você volta outro dia, pode ser? É que algumas costuras, conversas, se alongam, pois a gente puxa uma linha e vem um novelo ou mesmo um nó para desatar.

Então, você podia começar perguntando o que gostaria de saber, né? Acho que me facilitaria um monte. É tão difícil falar da gente sem parecer piegas, chato ou prepotente. Responder deixa tudo mais leve, diz minha terapeuta. Tah, tive uma ideia, vou lhe mostrar um álbum e se tiver faltado algo é só me perguntar, pode ser? 


GUIANDO O PERCURSO

De onde vim e para onde fui

Por Solange Perpin

Sobre a alegria que ainda mantenho

Era uma vez uma menina, chamada Solanginha, nascida em Brasília (DF), em 1967, que pequenina adorava dar aulas para suas poucas bonecas encostadas ao pé da cama. Sensível e empática, protegia os mais vulneráveis do que ela como podia.

Cena habitual em minha vida

Ferramentas "essenciais" eram as canetinhas, papéis e lápis de cor; presentes desejados, pois gostava muito de se expressar nas aulas de artes; também nas de teatro. Contam que ela se destacava nas redações escolares, que era uma garotinha comunicativa e educada. 

Eu e mamãe (Marlene)

Sua mãe, Marlene, nascida na fazenda em Anhanguera (MG) e registrada em Cumari (GO), na fase escolar migrou-se com seus pais, pouco alfabetizados, e irmãos para Araguari (MG). Ela recitava trovas para ganhar vinténs e fazia a alegria nos encontros familiares. Jovenzinha tocava acordeom para felicidade de seu pai. Foi normalista, formou-se em pedagogia, tornou-se professora, mas detestava dar aulas.

Mamãe, eu e papai

Ficava muito irritada, e, por isso, transitou de carreira para se tornar uma feliz e realizada advogada da união em Brasília (DF). Sabia costurar, bordar, crochetar e cozinhar, mas só o fazia por obrigação. Seu hobby era ler diário oficial, jornais, revistas e ver TV.

Francisco (foto do quartel do exército)


Seu pai, Francisco, nascido em Campos dos Goytacazes (RJ), família com muitos filhos, morava na roça e mexia com canavial. Metido em política perambulou por Minas Gerais, Goiás e Bahia, migrando por anos, até chegar à nova capital do Brasil recém-inaugurada.

Sobre a coragem de pegar uma onça

Criava versos na mente e recitava suas trovas por aí. Alfabetizou-se já adulto, conheceu Marlene. Com um sonho em mente, formou-se advogado e negociante. Trinta anos depois, voltou à cidade original, onde continuou atuando na advocacia, na poesia, contando histórias na rua e fazendo graça com suas varetas na praia. Sem timidez, no Faustão foi se virar nos 30.  

Vovó Ubaldina e vovô Adolfo

Seu avô materno, Adolfo, nasceu no interior e por ele viveu viajando vendendo e comprando gado. Nunca foi rico, teve fases boas e morreu sem nada. Quando dormia roncava alto e a neta caçula se lembra bem da graça dessa cantoria pela garganta do nariz. o vovô ficava com boca entreaberta, um palito de lado quase caindo, sonecando na cadeira de balanço que fica em um canto da sala sobre um tapete de vaca holandesa, perto do tamborete de mesmo couro.

Sua avó materna, Ubaldina, nascida também em fazenda, trabalhou sempre em casa. Era habilidosa costurava, bordava, fazia tricô e crochê, no tacho cozinhava frutas e seus doces de cidra, goiaba, leite, laranja, mamão verde eram alegria das crianças. Fazia queijo e vendia. Fazia quitanda e vendia. Vendia de tudo que sabia fazer. Não era ambulante, mas batia perna na rua, fazia amizades e voltava com seus dinheiros. Migraram-se para várias cidades.

Vovó Jocilia

Seu avô paterno, Amaro, nasceu no interior rural, vivia do roçado. Plantava milho e cana. Rodeado de caju e castanha, da terra garantiu o pão. Sua avó materna, Jocília, cuidava do lar e da filharada, 13 viveram. Parece que não saíram dali. Tinham raízes. Pouco conviveram com a neta, batizada com o mesmo nome da quarta filha.

 

Vovó Jocilia, eu e vovô Amaro

Quando Solanginha fez oito anos, o seu pai se mudou. Em casa se tornou Solange. Filha mais velha, obediente e disciplinada, certo dia “rebelar-se-ia” para ser ela mesma. Não se mudaria de cidades como os ancestrais, seria uma migrante profissional. 

Eu no sítio em Campos dos Goytacazes (RJ)

Vivendo sempre em Brasília, trocou de vida muitas vezes. Primeiro vendeu balinhas e bolsas de crochê como sua avó. Depois se tornou advogada como seu pai e procuradora de estatal, com emprego público, como sua mãe. No meio desse caminho, adquiriu outras habilidades, vendeu roupas e biquínis. Montou bijouterias, pintou quadros e experimentou um tanto de habilidades. Algumas bem acima da média, o que chamava atenção para a sua "inteligência" incomum; o que lhe causava mais desvantagens do que vantagens na juventude. 


Formatura em Direito (1988)

Mais tarde, infeliz da vida, fez terapia e mudou de carreira. Escreveu diários, desabafou poemas, articulou ideias em jornal. A poesia iniciada na adolescência se tornou evento grande, para mais de 300 pessoas, o Conversa Com Verso, no qual declamava nos bares da cidade.

algumas das minhas experiências artísticas

Fez outra graduação, pediu demissão, fundou uma ONG, o Moinhos (Movimento de Integração da Natureza Humana pela Orientação Sociocultural), para levar arte e cultura aos necessitados, presidiários, quem mais quisesse. Assim, transformariam suas vidas com novas habilidades (e o regaste de uma antigas mesmo), autoestima e autoconfiança. Ela sempre acreditou no poder restaurador e ressignificador da arte,  principalmente, da escrita. 

Esperando o amor da minha vida


Grande surpresa veio, em 2000 engravidou e em 2001 teve uma filha (amor maior de sua vida). Ficou em casa como as suas duas avós ficaram para cuidar dos rebentos. Parou de trabalhar fora, passou a pintar roupas, sapatos, paredes e tudo mais que fosse interessante colorir. Aceitava encomendas, vendia sua arte, enquanto aprendia a ser mãe, a amar incondicionalmente, transformava a si mesma. 
 
Ana Luísa, a princesa fofa da mamãe

Participou de feira mix, bateu perna como sua avó materna. E, paralelamente, além de “fazer artes”, começou a estudar incessantemente, em múltiplas dimensões do conhecimento humanista, combinando assim a sua multivocação e os multitalentos (ufa, cansa mas essa sou eu!) fazendo diversas formações e "teceduras"   nas áreas de linguagens, semiótica, comunicação humana, psicologia, psicodrama, filosofia, literatura, inteligências, altas habilidades, criatividade e processos de desbloqueio, bioética, arteterapia,  etc. 

Soll, como gosta de ser chamada, nasceu faminta pelo conhecimento do ser humano sem precedentes na família.

Lulu me acompanhando na pintura

Quando sua filhota, Ana Luisa, fez dois anos e meio aproveitou sua herança comunicativa e colocou o diploma de jornalismo em prática. Atuou “no hobby materno” escrevendo para jornal, revista, Intranet e internet, TV não. 

Formatura em Comunicação-Jornalismo (1999)

Assessorou pessoas físicas, empresas públicas, particulares, fundos de pensão, ONGs, políticos, Ministério Público Militar, enquanto continuava suas formações sobre a complexidade humana e se empenhava profundamente em seu autoconhecimento.

 

Jacob Levy Moreno (o psicodrama me acolheu e dali me ergui)

Nessa estrada interior, encontrou muita traça e mofo para tirar. Assassinatos, estupro, abusos, agressões físicas, relações tóxicas, repressão, machismo, falta de diálogo, bullying, lutos, crises financeiras,  abandono, diferenças sociais, depressão, tentativas de suicídio, alcoolismo, doenças mentais entre outros dramas humanos. Com apoio profissional, teceu a si mesma encontrando e atravessando suas urdiduras, as dos seus afetos, familiares, ancestrais, mas como não é tema desta parte, vamos saltar para acolá. 

Alguns dos meus escritos e invenções

Durante a trajetória, escreveu livro sobre a construção de Brasília, ganhou pequenos concursos literários, publicou contos, poesias e crônicas por aí. Como seu pai gostaria de fazer. 

Eu e  a turma na oficina de escrita criativa para alunos da UnB 

Logo, sua prática como escritora levou a trintona a dar aulas de produção de textos em faculdades. Encontrou na sala da aula seu lar aconchegante! Descobriu que amava compartilhar suas aprendizagem, estudar, organizar e sintetizar o saber! Adorava estar ali, ao contrário de sua mãe. 

Palestrando na Livraria Cultura sobre escrita terapêutica

A migração continuaria. Sem se mudar de cidade, esteve em muitos lugares diferentes e fez vários re-começos, como quem faz as malas, pega o ônibus e não olha para trás para descortinar uma vida nova. Assim, unia-se a novos fios e construía novas tramas de si mesma para seguir em paz. 

 

Oficina de escrita sensorial na Semana de Saúde Mental no TRE-DF

Após descobrir sua paixão (da infância esquecida) por ser educadora, uniu os conhecimentos adquiridos ao longo dos anos para realizar o sonho da vida autônoma. Trabalhar livremente realizando atividades que lhe fizessem sentido, reunindo suas maiores vocações e talentos. Entendeu que podia costurar o conhecimento com sua criatividade e entregar ao mundo o melhor de si mesma.

 

Vícios: estudar, aprender e compartlihar

Disseram que Solange, após longos anos regando e maturando suas ervas, colheu dos livros e de dentro de si  o que de mais profundo, sincero e sensível poderia ter como frutos para criar outra rota: nutrir-se e nutrir ao outro! Colocou tudo no caldeirão, intuitivamente fez a alquimia, criou e testou métodos. Gestava  a Tecedura! um projeto de autoconhecimento criativo e eficaz.

Detalhe da sala de terapia (aconchego para os atendimentos individuais)

Sabe-se, que ainda hoje ela entrega, com alegria, um manto acolhedor feito no seu tear de humanidade, tecido com as agulhas da sabedoria de quem conhece dores profundas e superou um tanto delas. 

Por ser andarilha de trilhas internas profundas, tece também tapetes que dão sustento àqueles que não sabem bem onde pisar e oferece a eles oportunidade de voar com segurança pelo desconhecido de si.  


Lugar para abrir os pensamentos e cuidar do coração


O seu diálogo e as suas poções cuidadosas estão disponíveis a quem lhe procura na floresta onde habita e é o seu lugar sagrado. 

O ateliê Ato Com Texto foi inaugurado em 2004 e, nele, Solange começou suas atividades como arte-educadora, mediadora de oficinas (em grupo) de escritas e autoconhecimento criativo, e, hoje atua, principalmente, como  terapeuta individual (com a própria metodologia, batizada Teceduras: escritos e narrativas do ser). 


Mediando uma oficina de escrita terapêutica em grupo

E agora que você chegou até aqui, peço-lhe licença para apresentá-lo. 

Ateliê Ato Com Texto 


Se quiser conhecer melhor o ateliê Ato Com Texto clique aqui

E clicando aqui você conhece  OUTRA PARTE DE MIM 



Muito obrigada pela visita 
e antes de ir embora leve um poema:




"Bernardo é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe.
E vêm ousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho:
1 abridor de amanhecer
1 prego que farfalha
1 encolhedor de rios – e
1 esticador de horizontes.
(Bernardo consegue esticar o horizonte usando três fios de teias de aranha. 
A coisa fica bem esticada.)
Bernardo desregula a natureza:
Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?)"


 Texto do poeta Manoel de Barros (In: Poesia Completa, p. 297)
Agradeço à criança que me habita e me olha com doçura. 
Ela me inspira a olhar da mesma forma para você!

Comentários

  1. Trajetolória de vida muito rica de experiências e que produziu bons frutos ! Gostei de ler a retrospectiva de sua vida. Foi frutífera, não resta dúvida. Parabéns pelas conquistas e realizações !

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